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  • Foto do escritorMelissa Sayuri

Uma visão muito particular sobre o filme Blonde!






Além de cinéfila de carteirinha, sou uma grande fã de Marilyn Monroe, desde novinha, sempre achei a imagem daquela mulher loira, de olhar sexy, lábios impecavelmente vermelhos e vestido branco esvoaçante, uma das coisas mais lindas que já deve ter passado pela face da Terra. Com o tempo e sempre fascinada tanto pela Marilyn como por outras divas da chamada Old Hollywood (amo o estilo sensual meio inocente das pinups, tanto que é minha inspiração para o figurino da Mell), fui lendo, assistindo e consumindo muito material sobre a vida dela. Quando se percorre este caminho, você descobre que por trás da persona Marilyn Monroe, existia uma mulher muito complexa e cheia de nuances; entretanto, não é novidade para ninguém que Norma Jeane Mortenson teve uma infância de abandono, não conheceu o pai biológico e sua mãe sofria de sérios transtornos mentais, o que a levou a viver em orfanatos. Quando adulta, Marilyn sofreu abuso, hiper sexualização e objetificação de seu corpo por uma indústria que se hoje é machista, imagine então na década de 50 e como aparece no filme, ela também sofreu aborto, violência doméstica praticada por um marido ciumento e a sua vida amorosa foi uma crescente de relacionamentos tóxicos e disfuncionais. Muitas coisas não sabemos ao certo o grau de veracidade e provavelmente, nunca saberemos, ficarão sempre no campo das conjecturações.

Quando o filme Blonde foi anunciado, fiquei na expectativa - obviamente, grande fã que sou de cinema e da figura Marilyn Monroe - e neste final de semana, decidi assistir, mesmo tendo acompanhado nos dias anteriores, as enxurradas de comentários negativos no Twitter, eu estava disposta a arriscar 2 horas e 47 minutos do meu tão valioso tempo...


Como foi a experiência?

Vou contar a vocês:

Se eu pudesse definir o filme em uma palavra seria perturbador!!

A caracterização da atriz Ana de Armas que a interpretou ficou perfeita e talvez seja só isso mesmo que posso trazer de positivo sobre todo o filme. Muitos falaram da atuação dela que estava impecável e digna de Oscar, ela estava ótima, porém não vi nada de tão espetacular (minha opinião); pois em quase 90% do filme, ela só aparece com cara de choro, sofrida ou tendo surtos e ataques histéricos (o fato dela chamar todos os homens com quem se relacionava de “daddy” me irritou). O filme foi inspirado no livro de mesmo nome da autora Joyce Carol Oates e não é uma biografia e sim, uma ficção baseada na história de vida dela. Até aí, ok!! Contudo, o que o filme fez foi pegar uma cena traumática da infância dela e em cima disso, construir uma mulher totalmente vulnerável, fraca, desequilibrada, triste, vazia, vítima a todo momento de homens que só queriam se aproveitar do seu corpo, ao qual parecia que ela não tinha a mínima autonomia e controle, vi uma mulher-fantoche ali. O filme não explora o talento de Marilyn, não explora a passagem de tempo da menina abandonada até ela se tornar um ícone do cinema, como ela construiu essa persona, de um salto ela vai da infância à Marilyn formada, já pronta e muito, muito problemática. Ninguém estava esperando um conto de fadas, mas até mesmo a questão do trauma e dos abusos que ela sofreu poderiam ter sido explorados de uma maneira mais empática; mas não, o diretor Andrew Dominik faz isso da pior maneira, com uma visão machista e sexista, não aprofunda na personagem psicologicamente falando, pelo contrário, usa desse gancho para uma exposição de cenas muito pesadas e nudez, muitas vezes, despropositada. Desnecessário! Faltou respeito à pessoa Norma Jeane e à persona Marilyn Monroe!!


O filme incomoda tanto - penso eu, principalmente às mulheres, a quem aquelas cenas podem despertar vários gatilhos - que eu tive que parar e só continuei no dia seguinte, porque tinha que terminar, mas muito incomodada... Haveria tantas maneiras de contar a história dela por esse viés (o do trauma), mas de uma outra maneira, com mais profundidade, trazendo questionamentos e reflexões e não desconforto e até certo asco. Me peguei pensando em como ela realmente deve ter sofrido em vida, na dualidade entre quem ela era de fato e a personagem que havia criado. Me peguei fazendo um paralelo - numa proporção infinitamente menor, é claro - com as acompanhantes que devem vivenciar diariamente tantos conflitos e dores, porque nós também, criamos uma persona para atender nossos clientes e seguir com nosso trabalho e quantas vezes, temos que calar nossas lutas internas, fazer a make, colocar a lingerie e o salto, e mesmo desmoronando por dentro, nos transformarmos ali naquela mulher poderosa e sedutora. Muitas meninas acabam não suportando esse peso, por isso, depressão e suicídio não são raros no nosso meio. Muitos inclusive, pensam que nossa vida é feita só disso, do glamour, da sedução, mas não entendem que há uma mulher normal por trás da profissão. Se é difícil para nós que vivemos num nicho, imagine o quanto foi para Marilyn, a mulher mais desejada do mundo, totalmente justificável que ela sofresse com depressão dentre outras coisas. Mesmo assim, apesar de tudo que passou em vida, ela foi uma mulher forte e independente, que largou o primeiro casamento para investir na carreira, era estudiosa e esforçada e posteriormente, saiu da produtora que explorava sua imagem para montar a sua própria.


Por fim, acredito que o que colaborou para que o filme trouxesse esse retrato da Marilyn de uma forma tão negativa e baixo-astral foi que o diretor, em declarações recentes, demostrou não admirar o trabalho dela - “Quem assiste os filmes da Marilyn?” - e disse ainda que só escolheu a Ana de Armas para interpretar, porque a viu nua... Complicado, não?!? Desrespeito a ambas. Me perguntei se caso um filme como este fosse produzido por uma mulher ou por um homem com mais empatia, se poderia trazer uma outra mensagem, além simplesmente, de incomodar, devido a bagagem emocional que uma história como essa carrega em si... Enfim, há um pouco de cada uma de nós na história da Marilyn, tanto nas suas dores como em suas lutas e paixões!!!

Recomendo?? Não !!


Obs.: Farei o possível para postar outros tipos de conteúdo no meu blog, mesmo que tenham menos visualizações que os contos em que relato as minhas aventuras.

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